Pular para o conteúdo principal

A Missão de Deus em Lucas 10: Reflexões Missiológicas

  A Missão de Deus em Lucas 10: Reflexões Missiológicas Introdução Lucas 10 é um capítulo essencial para a compreensão missiológica da missão de Deus através de Jesus Cristo. Neste capítulo, Jesus envia setenta e dois discípulos para pregar e curar, destaca a importância do amor ao próximo através da parábola do Bom Samaritano e nos ensina sobre a prioridade da devoção ao visitar a casa de Marta e Maria. Essas passagens oferecem um panorama rico para a reflexão missiológica, mostrando como a missão de Deus é praticada e vivenciada. 1. O Envio dos Setenta e Dois Discípulos Jesus envia setenta e dois discípulos para ir às cidades e aldeias, instruindo-os a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos. Este envio em duplas é um modelo de missão comunitária e colaborativa, onde a confiança em Deus e a parceria humana são essenciais. - Missão Comunitária: O envio dos discípulos em pares destaca a importância da comunhão e do apoio mútuo na missão. A tarefa de an...

Pré, Mid ou Pós-Tribulacionismo?

 

TEOLOGIA SISTEMÁTICA – ESCATOLOGIA



TRIBULACIONISMO



O termo “tribulacionismo” refere-se a uma crença ou doutrina dentro do Cristianismo que se concentra no período da tribulação, um tempo de grande sofrimento e provações mencionadas na Bíblia, especialmente no livro do Apocalipse. Existem diferentes interpretações sobre quando ocorrerá esse período em relação ao retorno de Jesus Cristo.



I - Pré-tribulacionismo



O pré-tribulacionismo é uma doutrina teológica que afirma que a Segunda Vinda de Jesus Cristo (parousia1) ocorrerá em duas fases distintas: primeiro, Ele virá secretamente para arrebatar sua igreja (os cristãos fiéis) da Terra antes de um período de tribulação de sete anos. Este período será um tempo de julgamento e sofrimento para aqueles que não aceitaram a Cristo como seu salvador.

As bases bíblicas mais comuns para o pré-tribulacionismo incluem:

  1. 1 Tessalonicenses 4:16-17: Esta passagem descreve a ressurreição dos mortos em Cristo e o arrebatamento dos vivos para encontrar o Senhor nos ares.

  2. 1 Coríntios 15:51-52: Fala sobre a transformação dos corpos dos crentes em um piscar de olhos, na última trombeta.

  3. Apocalipse 3:10: Jesus promete guardar os fiéis da “hora da provação” que virá sobre o mundo inteiro.

  4. 1 Tessalonicenses 1:10: Menciona que Jesus nos livra (ou melhor, livra a Sua igreja) da ira vindoura.

  5. Romanos 8:1: Afirma que não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus.

Essas passagens são interpretadas pelos defensores do pré-tribulacionismo, como evidências de que os crentes serão arrebatados antes do início da tribulação.


II - Midi-tribulacionismo


O midi-tribulacionismo, também conhecido como meso-tribulacionismo, é uma posição escatológica que defende que o arrebatamento da Igreja ocorrerá no meio do período da Grande Tribulação. Aqui estão algumas das bases bíblicas que sustentam essa visão:

  1. Daniel 9:27 - Esta passagem fala sobre a última semana das setenta semanas de Daniel, que muitos interpretam como um período de sete anos de tribulação. Os midi-tribulacionistas acreditam que o arrebatamento ocorrerá no meio dessa semana.

  2. Apocalipse 11:15-19 - A sétima trombeta é vista como um ponto crucial, onde o reino do mundo se torna o reino de nosso Senhor e de Seu Cristo. Os midi-tribulacionistas interpretam isso como o momento do arrebatamento.

  3. 1 Coríntios 15:52 - “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados.” A referência à “última trombeta” é associada à sétima trombeta de Apocalipse.

  4. 1 Tessalonicenses 4:16-17 - Esta passagem descreve o arrebatamento, e os midi-tribulacionistas acreditam que isso ocorrerá no meio da tribulação, antes da ira final de Deus ser derramada.

Essas interpretações são parte de um debate maior dentro da escatologia cristã, e diferentes tradições podem ter visões variadas sobre a cronologia dos eventos finais.



III - Pós tribulacionismo



O pós-tribulacionismo é uma visão escatológica que acredita que a Igreja passará pela Grande Tribulação antes do retorno de Cristo. Aqui estão algumas das principais bases bíblicas que sustentam essa perspectiva:

  1. Mateus 24:29-31: Esta passagem é frequentemente citada pelos pós-tribulacionistas como evidência de que o arrebatamento ocorrerá após a tribulação. Jesus diz: "Logo depois da tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do céu e os poderes celestes serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com um forte som de trombeta, e eles reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade dos céus à outra".

  2. 2 Tessalonicenses 2:1-4: Paulo fala sobre a vinda do Senhor e a reunião dos cristãos com Ele, mencionando que isso ocorrerá após a manifestação do Anticristo: "Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então será revelado o homem do pecado, o filho da perdição.”

  3. Apocalipse 7:14: Esta passagem descreve uma grande multidão que saiu da grande tribulação, indicando que os crentes estarão presentes durante esse período: "Estes são os que vieram da grande tribulação; lavaram suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro".

Essas passagens, entre outras, formam a base para a crença de que a Igreja enfrentará a tribulação antes do retorno de Cristo e do arrebatamento.



Minha posição:



Como pré-tribulacionista convicto, não encontro respaldo bíblico partido da interpretação dos textos que sustentam o midi-tribulacionismo. Da mesma forma, uma interpretação mais apurada da base bíblica que ampara o pós-tribulacionismo merece observar:

1) Mateus 24:29-31: o texto compõe o capítulo intitulado “o princípio das dores”. A volta de Jesus aqui mencionada é a 2ª vinda, quando da redenção de Israel, conforme Zacarias 12:10b e Romanos 11. São dois eventos distintos (o arrebatamento e a volta de Jesus Cristo). O arrebatamento ocorrerá antes da tribulação (Judas 14). Antes da volta de Cristo com os Seus santos haverá a celebração das Bodas do Cordeiro com Sua Noiva (Apocalipse 19:7). Tendo passado pelo Tribunal de Cristo (1 Coríntios 3:12-15); (2 Coríntios 5:10 ), os santos estarão vestidos de linho fino, branco e puro (Apocalipse 19:8). Certamente eles devem ser também o exército vestido de linho fino, branco e puro (Apocalipse 19:14) que virá com Cristo para destruir o Anticristo. Quando eles foram levados ao céu? É claro que isso não ocorrerá durante a própria Segunda Vinda, pois não haveria tempo suficiente nem para o Tribunal de Cristo, nem para as Bodas do Cordeiro. O Arrebatamento deve ocorrer anteriormente!

2) Quanto a 2 Tessalonicenses 2:1-4, que menciona a “apostasia2”, isto é, a mornidão espiritual, citada na epístola a Timóteo 4:1, e em Hebreus 3:12. Ora, a apostasia já está sendo vivida neste tempo, onde a igreja contemporânea se identifica com a Igreja de Laodiceia (Apocalipse 3:14-22). É necessário que haja a apostasia, para depois o arrebatamento e o surgimento da Grande Tribulação, período sob governo do anticristo. As palavras de Cristo, do mesmo modo como as de João, do Espírito e da Noiva, não fariam sentido se essa vinda para levar os crentes para Si mesmo tivesse que esperar a revelação do Anticristo (perspectiva pré-ira) ou a consumação da Grande Tribulação (perspectiva pós-tribulacionista). Uma vinda de Cristo “pós-qualquer coisa” para Sua Noiva simplesmente não se encaixa nessas palavras das Escrituras. Afirmar que a Grande Tribulação deve ocorrer primeiro, para que o Espírito e a Noiva digam: Vem, Senhor Jesus”, é como exigir o pagamento de uma dívida que vai vencer somente em sete anos!

3) Por fim, Apocalipse 7:14: uma grande multidão que saiu da Grande Tribulação, ou seja, aqueles que não passaram pelo arrebatamento e foram salvos durante a tribulação. Sim, haverá salvação durante a Grande Tribulação! A Bíblia menciona que muitas pessoas se voltarão para Deus nesse período de grande sofrimento e perseguição. Aqui estão algumas passagens e conceitos importantes sobre o tema: Apocalipse 14:6-7: um anjo é visto proclamando o evangelho eterno a todos os habitantes da terra, o que indica que haverá oportunidades de salvação durante a tribulação; Joel 2:32: “e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” Esta promessa é reafirmada em Atos 2:21 e Romanos 10;13, sugerindo que a salvação estará disponível para aqueles que buscarem a Deus, mesmo em tempos de tribulação. Embora a Grande Tribulação seja um tempo de grande sofrimento, a Bíblia deixa claro que a misericórdia e a salvação de Deus estarão disponíveis para aqueles que se voltarem para Ele.


Reafirmando minha posição:


Os pré-tribulacionistas acreditam que os crentes em Jesus serão arrebatados, ou seja, levados ao céu antes do início da Grande Tribulação, poupando-os da ira divina que será derramada sobre a Terra. Essa interpretação é baseada em várias passagens bíblicas e se distingue por uma leitura literal das Escrituras e pela separação entre Israel e a Igreja.

Aqui estão algumas razões frequentemente citadas para apoiar o pré-tribulacionismo:

  1. Iminência: A crença de que o arrebatamento pode ocorrer a qualquer momento, sem sinais prévios.

  2. Separação entre Israel e a Igreja: A distinção entre os planos de Deus para Israel e para a Igreja.

  3. Natureza da Tribulação: A Tribulação é vista como um período de julgamento divino, do qual a Igreja será poupada.



Como se vê, uma análise mais ampla e aprofundada das bases bíblicas que sustentam o “midi” ou o “pós” tribulacionismo apontam para a interpretação pré-tribulacionista, promovendo a refutação dos demais posicionamentos. No entanto, isso não deve ser motivo de divisão entre os crentes, pelo contrário, deve-se enfatizar a misericórdia e a graça do Senhor Jesus em salvar a Sua Igreja e o Seu Israel. Seja antes, durante, ou depois da tribulação, a Igreja será arrebatada, os mortos em Cristo ressuscitarão, Israel será redimido, e haverá um só rebanho, com um só Pastor (João 10:16). Aleluia!



Porto Belo, 25 de setembro de 2024.



Dr. GUSTAVO MADERS DE OLIVEIRA

Teólogo e Missiólogo



Fontes de consulta:

- Bíblia Sagrada, versão King James Atualizada;

- Chamada: Distinção Entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda, disponível em https://www.chamada.com.br/mensagens/distincao.html, arquivo consultado em 22/09/2024; e

- Copilot (copilot.microsoft.com).


1A “parousia” é um termo teológico que vem do grego “παρουσία” e significa “presença” ou “vinda”. No contexto cristão, refere-se à “segunda vinda de Jesus Cristo” no fim dos tempos. Esta crença é central para muitas denominações cristãs e está associada ao Juízo Final, onde Cristo retornará para julgar os vivos e os mortos.

2 A apostasia é um conceito importante na Bíblia e refere-se ao abandono ou renúncia da fé cristã.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As 3 viagens missionárias de Paulo

  AS TRÊS VIAGENS MISSIONÁRIAS DO APÓSTOLO PAULO As três viagens missionárias do Apóstolo Paulo são cruciais para entender a disseminação inicial do Cristianismo no mundo greco-romano. Aqui está um resumo das três viagens: Primeira Viagem Missionária (46-49 d.C.) - Atos 13 A primeira viagem missionária de Paulo começou por volta de 46 d.C., pouco após a conversão de Paulo ao cristianismo. Ele partiu de Antioquia da Síria, acompanhado por Barnabé e, mais tarde, por João Marcos. Esta jornada foi uma resposta ao chamado divino para pregar o Evangelho aos gentios. Principais paradas incluíram Chipre, onde pregaram em Salamina e Pafos, e várias cidades na Ásia Menor (atual Turquia), como Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe. Durante esta viagem, Paulo enfrentou tanto aceitação quanto resistência. Ele enfrentou perseguição e hostilidade, especialmente daqueles que se opunham ao Evangelho. No entanto, muitos gentios e alguns judeus se converteram ao cristianismo, f...

AMAZÔNIA – O MAIOR DESAFIO MISSIONÁRIO NO BRASIL - LER MAIS

  AMAZÔNIA – O MAIOR DESAFIO MISSIONÁRIO  NO BRASIL A Amazônia é, indubitavelmente o maior desafio missionário existente no Brasil. Cobrindo 59% de todo o território nacional, a região elenca cinco grupos socioculturais menos evangelizados no Brasil: indígenas, quilombolas, ciganos, sertanejos e ribeirinhos. A respeito do segmento ribeirinho, há um grupo de 35 mil comunidades na Amazônia, das quais estima-se que 10 mil ainda não foram alcançadas pelo evangelho. Vinte e seis milhões de pessoas habitam a Amazônia Legal, sendo que 1 milhão nunca teve contato com o evangelho. Há mais de 40 iniciativas evangelizadoras na Amazônia Legal e a maioria das comunidades tradicionais num raio de 100 Km das principais cidades já foram alcançadas. Dentre as necessidades apontadas para o avanço do evangelho entre os ribeirinhos estão a conscientização da igreja brasileira, missionários bem treinados, com capacidade de leitura cultural adequada, formação de líderes locais e mate...